A nova política em um mundo altamente conectado – que será tratada no programa DEMOCRACIA & REDES SOCIAIS – não tem nada a ver com velhas propostas partidárias ou de luta pelo poder. Veja a seguir exemplos dos assuntos que são tratados no programa da comunidade REDES.org.br na qual a Baia Hacker interage.
I – Nos novos mundos altamente conectados do terceiro milênio começa a brotar a consciência de que fazer rede é fazer amigos. Amigos políticos, no sentido original, grego, do termo ‘político’, que se refere à interação e à inserção na comunidade política; i. e., à polis – que não era a cidade-Estado e sim a koinonia política (como assinalou Hannah Arendt em “A condição humana” (1958): “a polis não era Atenas, e sim os atenienses”). Isso é uma subversão completa das identidades organizacionais abstratas, construídas top down para alocar uma pessoa em um degrau da escada. Para que ela pise na cabeça de quem está no degrau de baixo e tente ultrapassar quem está no degrau de cima, agarrando-se a ele e puxando-o para baixo, como fazem os caranguejos em uma lata…
II – O estudo das redes favoreceu a compreensão da democracia como movimento de desconstituição de autocracia, inaugurada na experiência local dos gregos para evitar a volta da tirania dos Psistrátidas (que, como qualquer poder vertical, se baseava na inimizade política). Tratava-se de preservar a liberdade. Mas como escreveu a mesma Arendt, em “A questão da guerra” (1959): [para os gregos] “a liberdade… é um atributo do modo como os seres humanos se organizam e nada mais”. Isso significa que a falta de liberdade é uma função direta dos superávits de ordem top down.
III – Antes do estudo das redes era mais difícil reconhecer a afirmação contida no item (II) acima, porque todas as organizações verticais se baseiam na inimizade política: quanto mais centralizadas, mais “se alimentam” de inimizade e de seus bad feelings acompanhantes, como a desconfiança. É isso que torna imperativa a necessidade de controle e, por decorrência, a exigência de obediência.
IV – Fazer amigos é uma subversão de todos os mecanismos de comando-e-controle. Fazer amigos que se conectam em rede distribuída dentro de uma organização hierárquica vai desabilitando ou corrompendo os scripts dos programas verticalizadores que rodam nessa organização. Redes distribuídas, mesmo com pequeno número de nodos, funcionam, assim, dentro de uma organização hierárquica, como espécies de vírus; ou melhor, de anti-virus (pois em relação à rede-mãe – aquela rede que existe independentemente de nossos esforços conectivos voluntários, à rede que existe desde que existam seres humanos que se relacionam entre si – são os programas verticalizadores que devem ser encarados como vírus).
V – Cada piramidezinha que construímos, nos espaços privados e públicos que habitamos, na nossa família, escola, igreja, entidade, corporação, empresa, partido ou governo, vai viabilizando a prorrogação da infestação do poder vertical. Pelo contrário, cada rede que articulamos vai dificultando a propagação desse vírus ou a replicação desse meme, por meio da criação de zonas autônomas, mesmo que sejam temporárias, criando condições para que a confiança possa transitar (ou para que o capital social possa fluir, se preferirmos usar essa metáfora), para que a competição possa ser convertida em cooperação; enfim – em um sentido ampliado do termo – para a manifestação da amizade (ou para fazer “downloads” daquela emoção que Maturana chamou… vejam só!, de amor).
VI – Não se trata de converter as almas por meio do proselitismo, do discurso ético normativo, exalçando as vantagens da cooperação sobre a competição, como imaginavam os adeptos das concepções 2.0. Trata-se de adotar padrões de organização que viabilizem a conversão de competição em cooperação. Parodiando Arendt, “a cooperação… é um atributo do modo como os seres humanos se organizam e nada mais”. Se nos organizamos segundo um padrão de rede distribuída, isso começa a ocorrer “naturalmente”; quer dizer, é uma fenomenologia que se manifesta em função da topologia (e não das boas intenções dos sujeitos).
VII – Uma organização hierárquica de seres animados pelas melhores intenções, cheios de amor-prá-dar, não se constitui como um ambiente favorável à cooperação. Em outras palavras, o capital social de uma organização rigidamente centralizada será sempre próximo de zero, mesmo que tal organização seja composta por clones de Francisco de Assis ou por réplicas perfeitas de Mohandas Ghandi.
Que tal? Você achou que é mais do mesmo ou sentiu o aroma de alguma novidade?
Para saber mais sobre o programa a distância, que vai começar no dia 24 de fevereiro de 2016, vá para http://www.democracia.org.br
Um grande abraço da
Equipe REDES.org.br